#61 Retrato, mil selfies
Has it ever struck you that life is all memory, except for the one present moment that goes by you so quick you hardly catch it going?–Tennessee Williams
A primeira vez que fiz uma sessão fotográfica foi no ano em que fiz 30 anos. Também foi o ano em que engravidei pela primeira vez, e o ano da pandemia. E agora, à distância, já parece outra vida. A Sofia que olha para mim daquele lado já não é a mesma pessoa, 5 anos depois. O meu amigo Lino fez um ótimo trabalho a tentar que estivesse relaxada em frente à câmara, mas o resultado final não seria tão eu sem um pouco de Sofia-a-tensa.
Ainda assim, percebi nessa altura que, se antes o rácio era uma imagem vale mais do que mil palavras, agora, um retrato como deve ser vale mais de mil selfies.
Com o passar do tempo andava a sentir que precisava de outras fotografias. Um novo capítulo. E como estas coisas têm uma maneira de funcionar, a Inga Freitas enviou-me uma mensagem no final do verão passado a perguntar isso mesmo – e se me deixasse fotografar?


Conheço a Inga à vários anos, de Vila Real, e, mesmo que nunca tivéssemos falado muito, sempre foi uma pessoa que me era querida. Antes, por ser gentil e muito boa fotógrafa, agora, porque os nossos filhos andam na mesma escolinha.
E para os introvertidos e desconfortáveis-em-câmara como eu: a Inga faz parecer fácil.
Combinámos uma data. Reservaram-se estúdio e maquilhadora.


Dependendo das situações, estou confortável a falar em público, mas ser fotografada é um assunto completamente diferente. Vai buscar preconceitos muito entranhados de vergonha de ser vaidosa, e de desconforto de estar a fazer uma coisa que é só… para mim. Não convivo bem com a hipótese de deixar aparecer algum narcisismo. Desde que fui mãe, ainda pior. É curioso, não é? A camada de associações que nos circula mesmo por baixo da pele, formada desde que somos tão pequenos, e que nos complica tanto a vida em adultos. Coisas como vaidade = superficialidade ou dinheiro = ganância. Termos relacionados mas que ficaram gravados como sinónimos.
Bem, uma sessão fotográfica, para mim, vai buscar isso, e mais um rol de 30 anos de inseguranças. Mas a Inga já faz isto há muito tempo.
Digo-te — ajuda imenso que seja alguém habituado a sessões pessoais, sobretudo se, como eu, tiveres a pose natural de um cone de sinalização. Alguém, como a Inga, que nos dirige gentil e subtilmente, faz com que a tensão vá desaparecendo e, aos poucos, surpresa, até se torne confortável.






Quando olho para estas fotografias são ao mesmo tempo de ontem e de outra vida. Grávida de 5 meses e muito espaço vazio, das coisas que ainda não sabia — urgências e internamentos depois, vesícula a menos, doutoramento entregue, o cansaço absoluto de dois filhos pequenos e de tentar tudo ao mesmo tempo. Eu vejo isto tudo, mas desse lado, espero, só se vê uma fotografia de marca pessoal.
Talvez devesse (devêssemos, tu e eu) fazer isto mais vezes: um retrato oficial, como se fazia antigamente, para marcar os degraus das nossas décadas.
Até breve,
Sofia
Para seguir
Inga Freitas
Para marcar uma sessão semelhante à minha podes contactar a Inga através do Instagram ou email. Para mais informações e preços para 2025 é este documento. Recomendo muito que escolhas um fotógrafo com quem te identifiques (como pessoa), além de escolheres pelo portfólio. Ajuda muito que seja alguém que te consiga deixar à vontade e dar alguma direção.


Da internet
The True Size Of…
Já partilhei numa edição da newsletter, muito lá para trás, mas os tempos eram outros e a geopolítica era definitivamente outra. Olhar para o verdadeiro tamanho dos países, fora da projeção mercator, traz perspetiva, por isso eis mais uma vez o mapa interativo do The True Size Of.
Ler/ver/ouvir
No Substack, uma das newsletters que mais tenho lido é a do
. Tenho sentido sentido que é a maneira mais eficaz de me manter a par das notícias do outro lado do atlântico, com filtro de economia e sem ver notícias.The 4 Seasons of Being a Woman. Já escrevi sobre respeitarmos a sazonalidade no trabalho mas… e se levássemos isso mais além? E se organizássemos o que temos de fazer de acordo com a nossa energia hormonal? São fases reais e com impacto na forma como nos sentimos. Este texto resume bem o ciclo e as suas ondulações.
Studioworks: Business management software for creative studios. Descobri esta ferramenta esta semana, ainda não explorei como deve ser, mas parece prometedor. Direcionada para estúdios criativos, com todas as componentes de gestão de projetos, envio de propostas e faturação.
Entretanto no luscofia®
Estive (com participante) no maravilhoso evento da Joana Galvão e saí cheia de ideias e inspiração para os próximos anos (plural, verdade).
Estive (como oradora) na 3.ª edição do Enter the Void em Guimarães, reencontrei algumas caras que já conhecia e re-apresentei a pesquisa participativa que fiz em 2021 (e que podem ver no YouTube).
Olá Sofia. Adorei as fotografias - acho que ficas muito bem de cabelo solto! - e gostei sobretudo da descrição que fazes de como te sentiste. Eu fiz também uma breve sessão para depois usar no meu website e senti falta de algumas orientações. Maquilhagem made-by-me. Cabelo foi o que calhou. Não estou totalmente descontente, mas depois fico a pensar nos pormenores e nas indicações que gostaria de ter recebido. Ao mesmo tempo, identifico-me muito com o que dizes sobre não querer parecer vaidosa ou narcísica. Suponho que é algo que temos que ultrapassar com compaixão. You're worth it.
Em relação aos ciclos, acho que de uma maneira informal fui percebendo alguns padrões, mas nem sempre consigo ajustar. Há dias que se tornam bastante exigentes - até fisicamente - precisamente porque estou numa fase em que o corpo tem menos energia. Vou pensar nisto seriamente.
Numa próxima oportunidade, espero não perder o evento da Joana! Fiquei super curiosa pelo livro também. Até breve!
As fotografias estão lindíssimas! Sou totalmente apologista dos registos com fotográfos profissionais, seja para estarmos uma beca mais profissionais, seja para registar em família. Há uns anos, juntei me às minhas irmãs e fizemos com a minha mãe, sou apaixonada pelo resultado, adorava ter começado com este "hábito" há tempo.
Sobre os ciclos: eu meto na agenda a previsão do período exatamente para não planear coisas importantes na semana anterior, em que quero matar qualquer um que veja na minha frente, ou nos dias em que só quero estar deitada. Aconselho vivamente, porque assim consigo produzir melhor nos melhores dias, só lucros! ahah