#60 Modo mínimo
Boundaries create the container within which your yes is authentic. Being able to say no makes yes a choice.–Adrienne Maree Brown
Há um ano estávamos na Terceira (eu, o Francisco, e o nosso filho Sancho, na altura com 15 meses) a passar um mês. O plano era trabalhar e visitar, em igual medida, mas claro que estávamos iludidos quando planeámos.
Sem apoio de amigos ou avós e um bebé em transição de sestas (pais vão compreender), o tempo fugia-nos a uma velocidade vertiginosa, por isso fizemos a escolha mais sensata possível para quem está numa ilha no Atlântico, na primavera, com um filhote que não vai ser pequenino para sempre: não trabalhar.
E com isso desbloqueámos um modo a que chamámos (não muito originalmente), o modo mínimo.
O modo mínimo é um modo de trabalho de manutenção. É uma espécie de quiet quitting, mas em versão de trabalho por conta própria. O quiet quitting descreve bem o que quero dizer, mas induz em erro porque parece que a pessoa se está a despedir lentamente, quando o ênfase devia ser neste espírito de fazer apenas o suficiente e não devia haver nada de errado nisso.
E claro, como sabemos, quem trabalha por conta própria não pode dar-se ao luxo de fazer apenas o suficiente durante muito tempo. Promovemos hoje para ter trabalho amanhã. Mas o modo mínimo pode ser particularmente útil para reequilibrar o trabalho e a vida pessoal, definir fronteiras e priorizar a saúde mental. O modo mínimo não são férias nem trabalho, é um híbrido.
Diariamente conseguíamos encaixar entre 0 (é!) e 3h de trabalho, dividindo as responsabilidades pelos dois e aproveitando as horas de sesta.


Algumas regras que achei importantes estabelecer:
Planear com antecedência as datas e preparar o contexto quase como se fossem férias (ex. comunicar a clientes regulares em que horário estaria disponível)
Verificar o emails 2 a 3 vezes por dia
Enviar orçamentos, mas agendar novos projetos para mais tarde
Evitar pedidos urgentes
Marcar só as reuniões absolutamente necessárias e nunca mais do que 1 por dia
Foi uma experiência construtiva. Percebi que funciono bem nessa fronteira entre a vida pessoal e profissional, e há um alívio, misturado com gratificação, em sentir que reduzir é possível, que o mundo não acabou por trabalhar menos. Há consequências (óbvio, não fosse ter FOMO), mas também não é preciso ir para o meio do oceano, pode ser noutra escala: não trabalhar à sexta-feira, ou tirar duas tardes, ou mais dias de férias – de vez em quando sair da mentalidade de quem gere um negócio e dedicar a atenção à nossa versão funcionário e deixá-lo fazer apenas o suficiente.
E não sou a única a pensar nestas coisas. O quiet quitting foi muito falado logo a seguir à pandemia. A Margarida Porto, do Achievers Club, todos os anos faz o que chama uma “workation”, meio férias, meio trabalho. O livro Good Enough Job descreve a mesma situação – e se o trabalho deixar de ser a prioridade?
Mesmo quando achamos que não, não sou assim!, o trabalho não está em primeiro lugar!, perguntem-se: numa situação em que és tu e outra pessoa, tu passas 3 horas a trabalhar e a outra pessoa passa 3 horas a ler e a arrumar a casa. No final dessas 3 horas, se for preciso fazer o jantar, sentir-te-ás no direito de usar o argumento “vais tu, porque eu estive a trabalhar”?
Até breve,
Sofia
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Para seguir
Lista de Substacks portugueses
O problema do Substack tem sido a quantidade de boas palavras para ler, em português. Desta última vaga, para juntar às minhas newsletters habituais, tenho gostado muito de seguir a
, a , a , a e a .Deixo-vos uma lista de substacks portugueses, em constante atualização, gentilmente começada pelo e continuada pela comunidade.
Da internet
How to professionally say
Como dizer profissionalmente que te roubou crédito de um trabalho? Ou que a reunião é inútil? Este site traduz o que queres dizer numa versão mais… profissional. E com mais palha, também, mas isso sou eu que gosto de escrever e-mails o mais curtos possível.
Para ler/ver/ouvir
The Good Enough Job já estava na minha lista e esta semana a
partilhou-o nas leituras mais recentes. Confesso que temo que seja daqueles em que a ideia do livro se resumia em 10 páginas ou menos, mas estou inclinada para lhe dar uma hipótese. Link do kobo, para quem é da equipa e-books como eu.How Much Does It Cost Your Business to Earn Each Dollar? — The Hell Yeah Group. Já que estamos em alturas de IRS e por isso altura de contas anuais, fica um guia simples mais completo sobre os valores que importam no nosso negócio. Em dólares, mas pensado para trabalhadores criativos.
The Cult of the Entrepreneur: Why do Americans idealize people who found businesses? Uma breve história de como é que chegámos até a esta admiração por quem cria um negócio e se liberta da rat race. O contexto europeu é diferente, mas, se são da minha geração, bem se lembram do “bater punho”. “So is the valorization of entrepreneurialism just a sunny spin on bad news—the ruling class trying to sell the declining economy as a fun and exciting new thing? It’s possible.”