#59 Dê por onde der, vai dar
To rank the effort above the prize may be called love.–Confúcio
Uma pergunta frequente feita a freelancers & cia é “como lidas com a incerteza?”, o que me soa sempre a distância de compreensão entre mim – que faço a pergunta – e o outro – que trabalha por conta própria. É que já todos estamos fartos de ouvir que a certeza já lá vai, que perdeu o significado, que um trabalho certo não é sinónimo de solidez e desafogo.
Carreiras em 2025 são tão diferentes de carreiras em 1995 que dois profissionais, um de cada ano, teriam dificuldades em falar a mesma língua. A competição pelo talento é feroz. Nessa batalha usam-se mais armas do que o salário: benefícios, despesas pagas, participação, cultura, planos de reforma, visão de futuro.
Mas esse não é o nosso mundo.
Nosso – dos trabalhadores independentes.
Se nos encontrássemos com o nosso par de 1995, também sentiríamos o choque de três décadas de mudanças no trabalho, mas a ele também lhe fariam de vez em quando essa pergunta, como lidas com a incerteza?
Mesmo com a colossal diferença de contextos, IA no horizonte, emigração, trabalho remoto, a digitalização, nómadas digitais, coworks, softwares avançados, softskills valorizadas, a resposta podia ter contornos diferentes, mas o preenchimento seria o mesmo: em parte, apenas acredito que as coisas vão funcionar.
Há uma linha que cose juntos quem trabalha por conta própria, uma crença na nossa capacidade de adaptação. Quem se junta a este modo de trabalhar é uma nova conta que entra na agulha. Acredito que dê por onde der, vai dar.
Atenção, não é confiança cega, nem se consegue de um dia para o outro, mas antes uma capacidade que adquirimos: perder o medo de saltar, ora porque fomos capazes de tecer uma rede de segurança, que começou fina mas foi endurecendo, ora porque já saltámos dezenas e centenas de vezes, algumas delas saltos perigosos, de suster a respiração, e mesmo assim aterrámos de pé.
Lembro-me sempre disto quando ultimamente me perguntam se não estou preocupada que a IA venha substituir o meu trabalho. Bem, não estou.
Esta semana li parte do policy paper que foi publicado pela ffms sobre o impacto da IA no mercado de trabalho em Portugal e fiquei surpreendida com alguns dos resultados (Vila Real está bem posicionada? Sou uma visionária), mas sobretudo inspirou-me a perspectiva de que seremos obrigados a ser menos máquina, mais pessoa.
O meu trabalho é mais do que criar um cartaz a partir de 3 elementos, ou uma brochura a partir de um texto em word. Existem fotógrafos e toda a gente tem uma máquina fotográfica no bolso. As profissões mudam, adaptam-se, evoluem, e como trabalhadores independentes somos a unidade mais mutável e dinâmica desta cadeia. Não carregamos estrutura, funcionários, despesas mensais intimidantes. Somos leves e rápidos, tomamos decisões e desfazemo-las no espaço de dias. Podemos experimentar, porque temos mais espaço para errar e tentar de novo. A nossa escala não nos permite competir pela quantidade, e pouco pela rapidez, porque continuamos presos na bela circunstância de sermos humanos. Se nos parecia limitado até aqui, talvez venha mesmo a revelar-se ser o nosso maior trunfo.
Até breve,
Sofia
Para seguir
O teu mal é sono
A Bruna Reis e a Sofia Rebocho estão por trás desta página totalmente dedicada ao sono e aos seus dilemas. Confesso: eu sempre dormi bem, há muito pouco que me tire o sono (é a estóica em mim), mas também me esforço para isso. Dormir está na base de tudo, desde o raciocínio até… ser simpático. Não é opcional. Já fiz várias diretas na vida e agora estou numa fase em que me vejo obrigada a trabalhar à noite. Tenho pensado mais no sono.
Por curiosidade, no episódio 36 do Fazer Preços e Assim falei com a Bruna.
Da internet
The Ambitious Creatives live
Já sabem que gosto muito da Joana Galvão, que fiz o Ambitious Creatives Booked Solid (ACBS), levei com uma onda de informação na cara e saí revigorada como num banho de mar. A Joana lançou um livro este mês! E para comemorar vai haver um evento ao vivo também em modo onda-de-informação.
É no dia 30 de abril e vai estar lá a Joana Galvão (claro), a Delia Monk (copywriter maravilhosa que deu duas masterclasses do ACBS e com quem aprendi imenso sobre o assunto, e, por consequência, muito sobre vendas), e a Gigido one6creative (cuja masterlcass no ACBS, sobre processos e experiência do cliente, foi a minha favorita). Vai valer muito a pena e eu estou ansiosa — nem que seja também porque vai ser um dia inteiro entre adultos, a falar dos meus assuntos preferidos 🥲 Para uma recém-mãe soa muito, muito bem.
Tenho um código afiliado que dá 75$ de desconto — é só escrevem SOFIA no check-out. Fácil de decorar.
Venham comigo!

Ler/ouvir/ver
PwC para o IRS 2025. Pois é, amigos, está na altura dele. A declaração de IRS já está disponível e tem de ser preenchida e entregue até dia 30 de junho (nada temam, que a secção de Prazos desta newsletter vos vai deixando avisos). Este guia está muito completo e resume muito bem, em tabelas, tudo o que tem a ver com despesas dedutíveis, o que é tributado ou não, entre outras coisas.
14 People on How Their Parents’ Money Impacts Their Lives. Este é um assunto sobre o qual devíamos falar mais vezes e mais abertamente. Como é que os nossos pais entram na equação das nossas escolhas? Para mim foram um fator de grande peso no que tocou a ter uma rede de segurança para começar a trabalhar. Sabia que teria casa (deles), comida, contas pagas, se tudo corresse mal. Sabia (e sei, hoje), que posso contar com o apoio deles, e não só financeiro: tomam conta dos meus filhos, dão boleias quando o nosso carro avaria (vivemos na mesma cidade) e o meu pai reviu a minha tese de Doutoramento. A ajuda é imensa e imprescindível. Não devia ser omitida, nunca devíamos passar a imagem de que fazemos tudo sozinhos.
The Rise of the Generalist. Relacionado com o que escrevia sobre a IA, este artigo do blog do Figma defende que é em sermos generalistas que estará o ganho nos próximos anos. A especialização pertence à máquina. “In an allocation economy—where resources and attention are the key constraints—the differentiator isn’t specialized knowledge that AI can replicate.”
Automação e inteligência artificial no mercado de trabalho português: desafios e oportunidades. Vale a pena dar uma vista de olhos ao policy paper (em PDF, para download no site) sobre a IA no contexto português. É uma investigação bem construída, sem alarmismos nem promessas vãs.
Outras coisas no luscofia®
As inscrições no Achievers Club já estão fechadas, mas o link afiliado continua disponível por mais uns tempos (até 15 de abril!), se estão à procura de um trabalho remoto e deixaram passar a altura de inscrições, este é o momento.
Voltei a publicar no Instagram depois de um longo interregno. Nem acredito. Vou tentar ser mais inteligente com o tempo que gasto a criar conteúdo para lá (vulgo: alimentar a besta), mas a intenção é, finalmente, trazer coisas novas ou revisitadas.
“Acredito que dê por onde der, vai dar.” - newsletter incrível como sempre! ☺️
Que bom resumo! Boa newsletter. Partilho desses sentimentos. Também dois freelancers na aldeia por aqui :) Muito interessante esse documento da FFMS, vou partilhar também! Beijinhos e bom trabalho!